Crianças de zero a 13 anos são atendidas por instituição mantida por mosteiro. Outras cidades têm unidades municipais.
Para quem está na rua, a escassa iluminação pública de Paraisópolis, zona sul de São Paulo, não deixa dúvida de que é tarde da noite. Dentro do Centro de Educação Infantil Estêvão Rei (Ceiser), o único noturno de São Paulo, as atividades com as crianças fazem parecer dia. Os bebês de menos de 2 anos brincam com blocos, as crianças entre 3 e 4 anos giram bambolês, um grupo de 6 a 8 anos ensaia para a festa junina e os mais velhos desenham.
Do lado de fora da janela, noite. Dentro da sala, crianças se mantêm em atividade
Só às 22h os portões são abertos e os primeiros pais entram para buscar os filhos. Os últimos saem às 23h30. “Tudo é costume. As crianças precisam de rotina”, diz a diretora Rozeli Neubauer. “São atividades mais calmas, mas eles ficam atentos.”
A creche gratuita é mantida pelo Mosteiro São Geraldo e, desde a inauguração em 2004, mantém um terceiro turno à noite para atender mães que trabalham ou estudam no período. De dia, o local é uma creche comum, mas a partir das 17h30 - quando todas as demais instituições infantis da cidade começam a encerrar as atividades - o Ceiser reagrupa alguns dos alunos que entraram às 13h e recebe outros tantos até formar a turma 100 alunos de zero a 13 anos para passar a noite.
A aluna Mariana, de 4 anos, seu pai e a diretora Rozeli. Antes, ela ficava na barraca de churrasquinho da família
ao local, dos oito presentes no Grupo 1, como é chamada a sala dos mais novos, apenas a caçula dormia no bebê conforto. O restante se mantinha atento aos passos das duas professoras presentes. Enquanto elas incentivavam, eles ficaram em volta de uma pequena mesa e riscaram folhas em branco com giz colorido e, quando pegaram uma caixa com blocos, a turma toda correu – ou engatinhou – atrás.
Em outra sala, um único colchonete era usado em um canto, ao mesmo tempo em que o restante da turma brincava com bambolê e fantasias da “caixa de personagens”. Entre os mais animados, Mariana Silva de Souza, de 4 anos. “Gosto de brincar e de ficar com meus amigos”, conta a menina sorridente quase às 23h da noite.
Os pais vendem churrasquinho na rua até 22h e a buscam quando o movimento acaba. Antes de ser matriculada, ela ficava com os dois na barraca. “Um dia a diretora veio oferecer uma vaga. De cara, não aceitamos. Achamos estranho criança estudar à noite, mas bendita a hora que a gente experimentou”, lembra o pai, Marco Antonio Souza. “Ela desenvolveu muito, sabe outras músicas e brincadeiras, mas principalmente fica mais feliz mesmo”, diz.
Uma das primeiras a buscar o filho de 8 anos, a vendedora Ana Maria de Souza gostaria de não precisar deixá-lo na escola noturna. “Venho correndo para poder ficar um tempo com ele, mas ter essa opção foi o que me permitiu trabalhar e ganhar um dinheiro que é para ele também”, conta.
A diretora conta que outras ONGs que atuam no bairro encaminham para lá mães adolescentes para que possam continuar os estudos. A instituição também prioriza os moradores nas contratações, sendo 26 dos 49 funcionários da comunidade.
Itapevi e São José do Rio Preto
Raras, as creches noturnas já existem em redes públicas de outras cidades paulistas. Itapevi, na Grande São Paulo, tem cinco unidades que atendem inclusive durante a madrugada. E São José do Rio Preto, no interior, tem duas instituições.
Em países desenvolvidos como a Suécia, as creches noturnas fazem parte da política de educação infantil.
Comunicação Inclusão Social BoroGZuca
Nenhum comentário:
Postar um comentário