sábado, 31 de agosto de 2013

Brasil está em guerra e não sabe?

Com mais de 200 mil pessoas assassinadas no Brasil entre 2008 e 2011, o país consegue fazer frente às grandes zonas de guerra do globo, segundo Mapa da Violência.


São Paulo – Vivemos em um país em guerra, mesmo que não declarada. Esta é uma das conclusões possíveis a partir da leitura do estudo Mapa da Violência 2013, realizado pelo professor Julio Jacobo Waiselfisz, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, e divulgado hoje. Cerca de 170 mil pessoas foram mortas nos 12 maiores conflitos no globo entre 2004 e 2007. No Brasil, mais de 200 mil perderam a vida somente entre 2008 e 2011.
Há dois anos - época dos últimos dados disponíveis - foram registradas mais de 50 mil mortes, dando ao Brasil uma taxa de 27,1 homicídios para cada 100 mil brasileiros. Desse total, cerca de 40% (18 mil pessoas) eram jovens entre 15 e 24 anos.
Para entender a dimensão das taxas de violência, basta compará-las às de outros locais. O número de assassinatos no Brasil é 274 vezes maior do que em Hong Kong, 137 vezes maior do que na Inglaterra e 91 vezes maior do que na Sérvia, segundo o estudo divulgado hoje. 
O estudo destaca ainda o fato do país não ter problemas com "disputas territoriais, movimentos emancipatórios, guerras civis, enfrentamentos religiosos, raciais ou étnicos, conflitos de fronteira ou atos terroristas".



Veja abaixo o total de mortes nas maiores zonas de conflito do planeta: 
País2004200520062007Total de mortes
Iraque 9.80315.78826.91023.765           76.266
Sudão 7.2841.0982.6031.734          12.719
Afeganistão   917100040006500          12417
Colômbia 2.9883.0922.1413.612          11.833
Congo 3.5003.7507461.351          9.347
Sri Lanka 1093304.1264.500          9.065
Índia 2.6422.5191.5591.713          8.433
Somália 7602858796.500          8.424
Nepal 3.4072.950792137          7.286
Paquistão 8636481.4713.599          6.581
Índia/Paquistão (Caxemira) 1.5111.5521.116777          4.956
Israel/Palestina 899226673449          2.247
Total dos 12 conflitos 34.68333.23847.01654.637        169.574
"São números tão altos que torna-se difícil, ou quase impossível, elaborar uma imagem mental, uma representação de sua magnitude e significação", admite Jacobo, autor da pesquisa. Segundo o sociólogo, a cultura da violência (caracterizada pelo hábito de resolver conflitos por meio da agressão), a certeza da impunidade (apenas 4% dos assassinos vão para cadeia) e a indiferença da sociedade com o grande número de mortes estão entre as causas do fenômeno. "
A vida humana vale muito pouco", resume o sociólogo, que é argentino. 
É preciso observar que a magnitude da violência vista no país não tem equivalência nas nações que possuem dimensões e populações maiores ou similares à brasileira. Só o México chega perto.
PaísAnoPopulação (milhões)HomicídiosTaxa por 100 mil habitantes
Brasil2010   190,8   52.260     27,4
México2011   112,5   24.829     22,1
Rússia2010   142,5   18.951     13,3
Filipinas2008   96,1   12.523     13
Nigéria2008   164,4   18.422     12,2
Indonésia2008   234,2   18.963     8,1
Paquistão2010   170,3   13.208     7,6
USA2010   301,6   16.129     5,3
Índia2010   1.184,60   41.726     3,4
Bangladesh2010   158,3   3.988     2,7
China2010   1.339   13.410     1
Japão2011   125,8   415     0,3

De acordo com o estudo, o número de assassinatos no país cresceu mais de 200% entre 1980 e 2011. Se considerarmos apenas as mortes violentas entre jovens no mesmo período, o aumento é ainda maior: 326% 
Para Jacobo, a tendência nos próximos anos é que grandes cidades como Rio e São Pauloatinjam um nível estável de violência se continuarem investindo em segurança pública – podendo reduzir ainda mais essas taxas com esforços concentrados em áreas como saúde e educação. Por outro lado, o sociólogo adverte que se nada for feito em regiões onde o número de assassinatos vem crescendo, como Pará e Alagoas, um novo aumento nos índices nacionais de violência poderá ser registrado. 
Num levantamento sobre o tema com 89 países, o Brasil fica em sétimo lugar.
"O quadro comparativo internacional já foi bem pior para o Brasil", revela Jacobo. Segundo ele, o país era o segundo colocado do ranking da morte em 1999, atrás apenas da Colômbia. De lá para cá, a taxa de homicídios no país não parou de crescer, embora o Brasil tenha perdido posições na lista. O sociólogo explica que esse "recuo relativo" se deveu "ao crescimento explosivo da violência em vários outros países do mundo", como El Salvador, Guatemala e Venezuela.

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